Somos todos viciados? A resposta divide a comunidade científica, mas, de acordo com os mais recentes estudos sobre a neurobiologia da dependência, ela pode ser positiva.
Se alguns culpam os excessos da vida moderna, outros preferem dizer que nossos cérebros já saem de fábrica com sede de prazer. Mas o fato é que mais e mais estamos dependentes da tecnologia, de alteradores de humor, da endorfina bombeada pela malhação ou da satisfação proporcionada pela compra de um novo par de sapatos.
Nos últimos 20 anos, os avanços das técnicas de neuroimagem aplicadas à psiquiatria vêm jogando luzes importantes sobre o comportamento humano. No que diz respeito aos vícios, a ciência conseguiu flagrar - por meio de técnicas como ressonância magnética funcional (MRI) e PET/CT, que associa a tomografia por emissão de pósitrons à tomografia computadorizada - imagens que mostram poucas diferenças entre os cérebros de dependentes de cocaína e de jogadores compulsivos, por exemplo.
Por isso, cresce o número de pesquisadores que acreditam que o mecanismo cerebral por trás de todos os tipos de dependência, químicas, ou comportamentais, seja o mesmo. Os mapeamentos cerebrais mostram que todos os vícios envolvem as mesmas respostas anormais do cérebro. Os estímulos prazerosos, naturais, ou artificiais, agem na mesma região do órgão, o chamado circuito de recompensa. Quando usamos uma droga ou desempenhamos uma atividade que nos traz satisfação, recebemos uma dose extra de dopamina, o neurotransmissor ligado à sensação de prazer.
O que permanece obscuro é por que algumas pessoas desenvolvem o problema e outras não? "A tendência à dependência varia de pessoa para pessoa. Muitos bebem regularmente ou jogam de vez em quando, mas apenas uma minoria perde o controle", diz o psiquiatra Hermano Tavares, do Hospital das Clínicas de São Paulo.
De qualquer maneira, qualquer tipo de dependência traz diversos prejuízos à vida de quem a carrega. Nas linhas abaixo você encontra todas as respostas que a ciência já pode dar sobre o problema.
Idéia fixa |
Como o cérebro se torna dependente |
As regiões cerebrais envolvidas no mecanismo da adição são o núcleo accumbens, a região tegmental ventral e o córtex pré-frontal. Tanto nos casos de dependência de substâncias, como nos de comportamentos, é ativado o sistema de recompensa do cérebro. Toda substância que libera uma grande quantidade de dopamina (neurotransmissor ligado ao prazer) no núcleo accumbens, especialmente de forma rápida, tem potencial aditivo. |
1. Córtex pré-fontal: está relacionado ao raciocínio e à tomada de decisões, desempenhando um papel de freio em comportamentos prejudiciais. O problema é que as drogas prejudicam a função dessa região. No caso dos comportamentos aditivos, acredita-se que essas pessoas já possuem algum dano nessa parte do cérebro
2. Região tegmental ventral: também está relacionada às emoções prazerosas. Essa área é um pouco mais ligada a memórias. Faz com que o comportamento aditivo seja aprendido
3. Núcleo accumbens: está ligado à avaliação de recompensa e ao sentimento de prazer. Quando a dopamina é liberada em grande quantidade, ele avalia o comportamento ou a substância que a desencadeou como algo a favor da vida e sinaliza para outras regiões repetirem o comportamento |
Variações do mesmo tema |
As diferenças entre os problemas relacionados à dependência |
1. Obsessão
Sabe aquelas idéias, pensamentos e cenas que não saem da cabeça e ficam se repetindo de forma persistente? Não? Sorte sua, pois esses são os ingredientes que caracterizam um comportamento obsessivo. Há quem não consiga segurar essa barra e precise de rituais ou do consumo de alguma coisa para dar conta do recado. Quem sofre do mal sabe o que está acontecendo e sente a coisa como invasiva. Quando isso acontece, o paciente passa a sentir ansiedade e um desconforto difíceis de suportar. Nessa hora, muitos assumem o comportamento de avestruz. Enfiam a cabeça no buraco e fingem que não é com eles, mas, mesmo assim, reconhecem que o problema é produto de sua mente, e não originados de fora. É comum confundir com o conceito de obsessão, como se ela fosse um conjunto de medos exagerados relacionados com problemas reais. É bem pior que isso.
2. Dependência física
O metabolismo do viciado pensa como ele. Se a substância psicoativa "faz bem" para o cérebro, não é o metabolismo que vai estragar a festa. Daí, o sujeito fica livre para experimentar dois fenômenos: a tolerância (necessidade de usar quantidades cada vez maiores para obter o mesmo efeito) ou a abstinência (aquela doideira desagradável que rola quando o uso regular não é possível).
3. Dependência psicológica
Já aconteceu com todo o fumante que tentou parar. De repente, o cara enrola uma nota de dinheiro e leva à boca sem querer. Dependência psicológica é isso aí. Basicamente, ela acontece quando a "cabeça" sente falta da droga, mesmo quando o "corpo" não está sentindo ou para além da falta que o corpo sente. Esta divisão caiu um pouco em desuso.
4. Compulsão
Não poder comprar, beber ou jogar deixa você de bico, com mal-estar e uma grande sensação de frustração? Caso a resposta seja afirmativa, você pode estar sofrendo de compulsão. E, para conseguir um alívio imediato, só realizando o ritual pelo qual a sua mente clama. Para assustar mais ainda, o distúrbio pode ser classificado como um aspecto dos transtornos ansiosos obsessivo-compulsivos.
Fonte : REVISTA GALILEU,Edição 187 - Fev/07 -http://revistagalileu.globo.com/Galileu/ |
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