Siri à parte, a verdadeira inteligência artificial ainda é um sonho distante. Por melhor que seja o sistema da Apple não é sensiente, não tem percepção de “eu”. Não pensa, só pensa que pensa.
Quando Arthur Clarke escreveu o roteiro (e depois o livro) 2001 havia um grande otimismo, imaginava-se que logo computadores estariam pensando, tomando decisões, conversando e ejetando astronautas, mas o campo da Inteligência Artificial Forte se tornou um atoleiro. Pensar é muito mais complicado que meras relações semânticas.
Alguns pesquisadores desistiram de definir os processos de pensamento e partiram para o conceito de simular cérebros a partir de sua estrutura básica, mas é algo que mal consegue ser feito com insetos. Um cérebro humano tem 10^14 sinapses, sequer temos computadores para simular algo assim.
Claro, há otimistas. Ray Kurzweil, pesquisador de inteligência artificial declarou durante o Singularity Summit em Agosto que em 2030 teremos um cérebro humano emulado por um computador. Diz ele que os 36.8 petaflops de processamento e 3.2 petabytes de memória necessários já serão atingidos em 3 anos, a IBM está construindo um supercomputador especialmente para isso.
O problema é que o cérebro é bem mais sutil. Um neurônio normal tem 10 mil sinapses, mas o processamento não é meramente elétrico, é químico também. Para complicar, não sabemos quase nada do que acontece dentro dos neurônios e como isso afeta o processamento e armazenamento de sinais.
Indo mais além, o matemático Roger Penrose defende, em seu excelente livro A Mente Nova do Rei a teoria de que a consciência é um processo quântico, bem mais sutil e complexo que reações eletroquímicas. E, graças ao Princípio da Incerteza de Heisenberg, impossível de ser mensurado para posterior emulação.
Realmente há processos biológicos quânticos, como a magnetocepção dos pássaros e a fotossíntese, mas as evidências de uma consciência quântica nunca foi achada em laboratório, só em retiros new age cheios de gente que fuma cigarrinho de artista.
Não conseguimos simular corretamente sequer uma célula. Achar que um neurônio pode ser tratado como uma caixa preta é de um otimismo atroz, mas ao mesmo tempo é o clássico algoritmo da sala de tradução chinesa.
Kurzweil previu o que chamou de “Singularidade”, o momento em que a inteligência artificial superará a humana. Alguns autores consideram isso não só inevitável como a mente biológica um mero momento no tempo, existindo apenas para dar a luz à mente mecânica.
A hipótese da Singularidade faz bastante sentido, talvez seja até inevitável, mas é muito temerário definir prazos tão curtos como 2030. Por mais que nosso cérebro seja nada mais que um computador biológico, e o Teorema da Máquina de Turing se aplique, é preciso muita fé para acreditar que um amontado de neurônios simulados ligados em conjunto irá adquirir consciência.
Emular um cérebro humano por si só não é vantagem. Existem métodos bem mais divertidos e baratos de criar cérebros com toda a estrutura biológica de apoio. O objetivo é que o computador emule o cérebro com mais recursos e velocidade, resultando –teoricamente- em mais inteligência.
Diz a IBM que já conseguiu emular parte do cortex cerebral equivalente ao de um rato, mas isso exigiu o BlueGene/L e seus 32.768 processadores, e não há como comparar efetivamente com um rato de verdade para ver se acertaram.
Talvez a empreitada seja impossível, e nem pela dificuldade computacional. Há teorias que um cérebro humano trazido à consciência ficaria imediatamente louco ao se perceber em uma situação não-corpórea, sem nenhuma entrada sensorial normal. Na melhor das hipóteses seria um pesadelo interminável.
Por enquanto podemos apenas esperar para ver, mas não deixa de ser irônico tanta gente empenhada em uma pesquisa que se bem-sucedida significará o fim de nossa existência na Terra.
Fonte: Wired-http://meiobit.com/
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