CONSCIÊNCIA PARA ALÉM DO CÉREBRO

Consciência para além do cérebro 

Raul Guerreiro

“Nesse patamar da consciência, a observação e o conhecimento tornam-se uma coisa só. A intenção da pessoa que observa torna-se aí algo essencial para aquilo que ela vivencia. Além disso, o conceito de tempo é muito diferente do nosso. Vive-se ali como que na eternidade, e a pessoa de certo modo torna-se ela própria idêntica àquilo que observa. O mundo espiritual é vivenciado como algo extremamente mais real e mais intenso do que o nosso mundo físico. A consciência constitui aí o mistério central do universo, ou a causa real do mundo. Rudolf Steiner explicou uma vez resumidamente que “Tudo no mundo é consciente”.

Recentemente foi publicado em alemão um livro do médico americano Dr. Eben Alexander. Título: “Um olhar para a eternidade — a fascinante experiência de quase-morte de um neurocirurgião”. O Dr. Alexander é formado na prestigiosa Universidade de Harvard, onde trabalhou durante muitos anos. Em 2008, com 54 anos de idade, ele adoeceu gravemente devido a uma infecção no cérebro, e em seguida perdeu a consciência, entrando em estado de coma total. A ocorrência dessa doença bacteriana (Escherichia coli) é raríssima para esse órgão humano, e também para essa idade. Os antibióticos utilizados pelos médicos resultaram praticamente inúteis, e após uma semana de esforços o paciente foi declarado como praticamente morto.
No sétimo dia, os médicos assistentes consultaram a esposa do Dr. Alexander a fim de decidir se deviam suspender os medicamentos, para permitir que o paciente morresse, evitando assim que ele mais tarde fosse viver como um deficiente, em estado puramente vegetativo. Essa era a expectativa da medicina. Mas “milagrosamente” o paciente não só “acordou” pouco tempo depois, mas ainda se recuperou completamente, atingindo absoluta reabilitação da sua saúde.
Durante seu período de coma, o Dr. Alexander vivenciou experiências extraordinárias acerca do chamado mundo espiritual. Tais experiências confirmam aliás as investigações realizadas há quase um século pelo filósofo e cientista Rudolf Steiner. Durante a sua provação, o Dr. Alexander reconheceu seu estado de semidesincarnado detalhadamente como um mundo formado por três níveis. O nível inferior foi reconhecido como uma zona básica, radical ou arterial, animada como se fosse um verme vivendo no meio da lama. O segundo nível de transição consistia de maravilhosas paisagens, inundadas por uma música tão encantadora, que é impossível de ser concebida aqui entre nós no mundo físico. O terceiro nível foi sentido como o centro do mundo, como um sol negro irradiando a luz mais brilhante possível. Nesse patamar da consciência, a observação e o conhecimento tornam-se uma coisa só. A intenção da pessoa que observa torna-se aí algo essencial para aquilo que ela vivencia. Além disso, o conceito de tempo é muito diferente do nosso. Vive-se ali como que na eternidade, e a pessoa de certo modo torna-se ela própria idêntica àquilo que observa. O mundo espiritual é vivenciado como algo extremamente mais real e mais intenso do que o nosso mundo físico. A consciência constitui aí o mistério central do universo, ou a causa real do mundo. Rudolf Steiner explicou uma vez resumidamente que “Tudo no mundo é consciente”.
Os acontecimentos na biografia do Dr. Alexander vieram agora evidenciar, de maneira espetacular e científica, que a consciência pode realmente existir independente de um cérebro. Antes de adoecer, esse experiente médico era um cientista 100% materialista, e na sua atividade altamente especializada em neurocirurgia ele já tinha ouvido, da parte de pacientes, relatos de experiências semelhantes. Mas ele sempre tinha descartado educadamente tudo isso, como produto da fantasia das pessoas. A sua crença absolutamente “científica” era: sem um cérebro é impossível haver consciência.
Mas o destino resolveu que ele fosse vitimado por uma doença na sua própria especialidade. Seu cérebro foi afetado na parte suprema, o neo-córtex, e assim durante seu estado de coma não havia instrumento algum para transmitir qualquer consciência. Isso também explica porque é que durante o período de sua permanência em um estado superior de consciência, ele não guardou qualquer memória anterior do mundo físico. Isto está em contraste com outras experiências de “quase-morte” no caso de pacientes que sofreram uma parada cardíaca, e depois uma ressuscitação, sendo que mais tarde relataram como no estado desincarnado puderam ver, praticamente como observadores de um palco de teatro, médicos e familiares reunidos e trabalhando à volta do seu leito na clínica (geralmente na expectativa de ver se eles iam mesmo “morrer”…).
Nos primeiros 14 dias após seu despertar da coma total, o Dr. Alexander passou por uma síndrome de transição, com diversas alucinações e estados de delírio. Na posterior memória, ele conseguiu distinguir com precisão os dois níveis de vivências: o período logo após o despertar estava cheio de imagens, cuja natureza ele reconheceu claramente, em retrospectiva, como ilusões. Mas no período anterior, ou seja, durante o estado de coma propriamente dito, suas ideias e vivências não foram ilusão nenhuma. Pelo contrário, ele experimentou aí uma realidade absoluta e mais elevada. Conforme ele relatou: uma espécie de saber superior, ou uma ultra-realidade.
O hospital onde o Dr. Alexander esteve internado era o mesmo onde ele trabalhava. Após sua total recuperação, ele estudou o relatório médico redigido pelos seus colegas. No início, ele levantou todas as objeções neurológicas possíveis para negar cientificamente a experiência que ele próprio tinha vivido! Mas após um estudo rigoroso das atas médicas, ele teve que se refutar a si mesmo. E despois de estudar a crescente literatura científica sobre eventos de “quase-morte”, ele declarou por último que seu caso podia mesmo servir para quebrar o pescoço da medicina e da ciência materialistas.
De fato, seu relatório é particularmente racional e convincente, constituindo um avanço decisivo nesta matéria, após as conhecidas experiências já descritas nas publicações do cardiólogo Willem van Lommel e do psiquiatra Raymond A. Moody. É curioso assinalar ainda que, durante todo o período de coma, a esposa e os irmãos do Dr. Alexander formaram uma espécie de corrente ininterrupta de boa-vontade e amor, de modo que sempre havia alguém sentado a seu lado, segurando sua mão. Após retomar com dificuldade a consciência normal do corpo, o Dr. Alexander relatou que viu as faces dessas pessoas que se dedicaram espiritualmente a acompanhá-lo naquilo que parecia a aproximação da morte.
Um episódio singular foi a súplica feita pelo seu filho de 11 anos. No sétimo dia da ocorrência, enquanto o garoto estava sentado junto do leito no hospital, ele vislumbrou em espírito a figura do pai, no momento em que ele retornava ao corpo para recuperar a consciência. Esses detalhes foram evidentemente recolhidos bem mais  tarde, mas tiveram que ser assumidos como reais e inquestionáveis.
Conforme podemos ver, cada vez mais se encontram maneiras para retirar a humanidade da escuridão do materialismo e conduzi-la à luz do Espírito. Aliás, o relatório do Dr. Alexander, bem como as demais experiências de “quase-morte” conhecidas, significa um inusitado brilho “supra-terrestre” que vem dignificar as práticas da medicina de reanimação e cuidados intensivos, que muitas vezes são impiedosamente criticadas. O dilema em que se encontra a medicina intensiva dos nossos dias fica demonstrado da maneira mais dramática por aquele detalhe: sete dias depois de um estado de coma total, o paciente voltou à vida exatamente no momento em que seus dedicados colegas, que aliás o tinham em grande estima, estavam se preparando para deixá-lo “morrer”, a fim de “livrá-lo” de um miserável resto de existência como deficiente.
- Fonte: http://www.antroposofy.com.br/wordpress/consciencia-para-alem-do-cerebro/#sthash.ZD2CfIaz.dpuf

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