Terapia com Psicodélicos pode estar disponível em uma década
Matthew Johnson faz parte da equipe da Universidade Johns Hopkins, que realiza pesquisa com psilocibina em um número crescente de áreas, que vão desde experiências místicas para o tratamento da ansiedade de fim de vida ao tratamento de vícios. O foco pessoal de Matthew encontra-se em tratamento da dependência, e seu mais recente artigo científico descreveu sua pesquisa usando a psilocibina para o abandono do vício do cigarro. Ele falou com a OPEN Foundation sobre seus estudos e para o futuro da ciência psicodélica.
Traduzido do original de Olivier Taymans
Open – Como você veio parar na pesquisa psicodélica? Este foi um antigo sonho seu, ou foi uma oportunidade única?
MJ – Bem, foi tanto um sonho antigo quanto um acontecimento fortuito. Cerca de 15 anos atrás, quando eu estava na faculdade, eu esperava fazer pesquisas com compostos psicodélicos, embora eu tivesse previsto que levaria muitas décadas antes de alcançar isso. Mas então eu tive a sorte de descobrir que o meu mentor de pós-doutorado, Roland Griffiths, tinha começado a pesquisa com psilocibina. Eu descobri isso bem na minha entrevista de pós-doutorado, então eu me infiltrei tanto quanto eu podia. Estou aqui na faculdade por muitos anos desde então.
Open – O que te interessou em primeiro lugar?
MJ – Bem, as perguntas que envolvem estes psicodélicos, estas interessantes questões muito abrangentes e filosóficas, foi o que realmente me intrigou. Quando eu tinha uns 19-20 anos, fiquei muito interessado em muitas das leituras sobre psicodélicos e sobre as pesquisas mais antigas com essas substâncias, as questões de conexões mente-corpo, a natureza da mente … não temos quaisquer respostas definitivas a essas perguntas, mas os psicodélicos parecem ser um bom ponto de partida quando você está interessado nelas.
Open – Você tem alguma dica para aqueles que gostariam de abraçar a mesma carreira?
MJ – O maior conselho que posso dar é para receber treinamento em algum tipo de disciplina que lhe permitirá realizar pesquisas: ou receber um diploma (MD ou PhD) para se tornar um pesquisador em alguma área da neurociência ou psicologia. Eu sugiro escolher uma área que se encaixa muito bem com os interesses mais em voga. Um pesquisador não encontrará uma posição onde ele possa se concentrar exclusivamente em psicodélicos. Eu, por exemplo, estudo o vício em geral, os efeitos agudos das drogas, a natureza do vício e tratamentos de dependência, e isso se encaixa muito bem com o meu interesse em psicodélicos no tratamento da dependência química. Dessa forma, essa outra área de trabalho é capaz de sustentar a minha posição, uma vez que o foco em psicodélicos não seria capaz de fazer isso por si só. Então entre em um assunto mais procurado que pode cruzar com o seu interesse em psicodélicos.
Open – Sobre à pesquisa que você conduziu, o seu mais recente artigo era sobre o seu estudo de abandono do tabagismo usando psilocibina em combinação com a terapia cognitivo-comportamental. Os resultados parecem muito promissores, como o artigo relata, uma taxa de sucesso 80% na amostra limitada do estudo. O que poderia ser o mecanismo de ação que ajuda as pessoas a chutar seu vício quando tratados com psicodélicos?
MJ – Até o momento, as evidências sugerem que há mecanismos psicológicos de ação em jogo. Por exemplo, as pessoas endossam que após as sessões de psilocibina, era mais fácil para elas para tomar decisões que estavam de melhor acordo com seu interesse de longo prazo, e eram menos propensas a tomar decisões com base em curto prazo ou desejos hedonistas. Elas também relataram um aumento da sua auto-eficácia, a sua confiança na sua capacidade de permanecer sem cigarro. Muitos dos participantes tiveram o que eles consideraram experiências espirituais ou de muito significado. Todos estes aspectos psicológicos são consistentes com as terapias de dependência. Certamente, há uma longa história de pessoas que informam que experiências ou conhecimentos espirituais os levaram a superar um vício. Acreditamos que também existem mecanismos biológicos os quais nós não exploramos ainda, nós estamos apenas começando esta próxima fase do estudo. Em última análise, eu acredito que a resposta vai cobrir muitos aspectos e revelar ambos os mecanismos psicológicos e biológicos.
Open – E sobre as três pessoas (de 15) que não foram capazes de parar de fumar? Você tem uma idéia do porquê?
MJ – Elas tendiam a ter experiências menos significativas em suas sessões de psilocibina. Nossa amostra é relativamente pequena, por isso, estamos cautelosos em exagerar as nossas conclusões, mas parece que a tendência é que as pessoas que tiveram experiências de sessões menos pessoal ou espiritualmente significativas estavam menos propensas a ter sucesso no longo prazo. E isso é consistente com outros dados coletados em outros estudos de psilocibina. A natureza da experiência, particularmente uma experiencia de natureza positiva e mística, parece ser o que está gerando uma mudança positiva na personalidade e nas atribuições de longo prazo dos benefícios.
Open – Se estes resultados interessantes puderem ser confirmados em uma escala maior, você acha que esse tipo de terapia pode se tornar disponível à população, e em caso afirmativo, quanto tempo pode demorar?
MJ – Sim, eu acredito que sim. Eu acho que seria pelo menos dez anos, eu estou esperançoso de que não seria muito mais tempo do que isso. A pesquisa com psilocibina nos Estados Unidos avançou muito relacionada ao tratamento da ansiedade e da depressão nos casos de câncer. Seria de se esperar, a aprovação inicial do FDA para a psilocibina como um medicamento prescrito provavelmente para a aflição relacionada ao câncer. Mas gostaríamos de antecipar, se os dados continuarem a se mostrar promissores, que uma prescrição para os vícios poderia vir logo depois disso. Eu acho que é absolutamente possível, e essa é a nossa esperança, que isso irá além da pesquisa, para o uso prescrito e aprovado. Acreditamos que as experiências seriam conduzidas em clínicas, de uma maneira semelhante à cirurgia ambulatória. Por isso, não seria como, “tome dois destes e apareça aqui pela manhã“, e mandaríamos o paciente para casa com a psilocibina para usar por conta própria. Envolveria uma preparação, assim como o que está acontecendo em nossa pesquisa. Triagem, seguida de algumas reuniões preparatórias com a equipe profissional, e, em seguida, uma ou algumas experiências de um dia inteiro em que a pessoa viria na parte da manhã e sairia às 5 ou 6h. Eles seriam entregue aos cuidados de um amigo ou um ente querido, de forma muito semelhante aos procedimentos que a cirurgia ambulatória é realizada.
Open – Os médicos precisam de uma licença especial para este tipo de prática?
MJ – Sim, eles podem precisar de algum treinamento especializado, algum certificado nos fundamentos da condução desses tipos de sessões. Os procedimentos que estão operando nas pesquisas atuais com psilocibina são muito eficazes, por isso seria, essencialmente, semelhante a estes, com mecanismos de segurança semelhantes.
Open – Você também já realizou uma pesquisa sobre experiências místicas, em outro estudo. Tudo parece indicar que essas experiências induzidas por drogas psicodélicas não podem ser diferenciadas das experiências místicas espontâneas ou que ocorrem naturalmente. Quais são as implicações disto, e o que isso significa para a pesquisa científica?
MJ – Eu acho que abre muitos caminhos. Haverá ainda um longo tempo antes que percebamos plenamente – talvez nunca – todo este potencial. A coisa mais interessante, talvez, é o que pode nos dizer sobre a biologia das experiências que ocorrem naturalmente. Mesmo aquelas que ocorrem sem o estímulo de uma substância externa, é possível que esteja algo muito semelhante acontecendo de forma endógena. Uma especulação que o Dr. Rick Strassman pôs diante é que a dimetiltriptamina (DMT), que ocorre naturalmente no cérebro, poderia ser responsável por experiências espontâneas extraordinárias deste tipo. Nós realmente não sabemos se é esse o caso, embora ele certamente pareça plausível neste momento. Mas eu acho que se encontrarmos uma base biológica semelhante ao que ocorre naturalmente nas experiências espirituais ou místicas e nas experiências veiculadas pelos psicodelicos, isto teria profundas implicações filosóficas na forma como vemos a experiência humana em geral, a idéia de que não há essa divisão dualista entre biologia e experiência subjetiva. Sugere que são sempre dois lados da mesma moeda.
Open – O que você acha que poderíamos ganhar ou aprender com as experiências místicas? Elas poderiam ser úteis para a sociedade como um todo?
MJ – Tem sido especulado que o mundo seria um lugar melhor, em muitos aspectos, se mais pessoas tivessem tais experiências. Talvez seja uma ilusão pensar que estas experiências, por si só, salvariam o mundo. Mas faz sentido que, se mais pessoas têm verdadeiras experiências de abertura e de ligação com o resto da humanidade, que isso só pode ajudar – quer seja a partir de psicodélicos ou experiências que ocorrem espontaneamente, ou através do uso de outras técnicas. Eu me interesso na especulação de que essas experiências podem levar a um comportamento pró-social, o que pode ser bom para o mundo em geral, embora eu seja um pouco cauteloso. Eu certamente não diria que os psicodélicos são uma panaceia que, sozinha, vai salvar o mundo. Mas talvez, se usados com cautela, sob certas circunstâncias, eles poderiam ser parte e contribuir para um maior nível global de consciência. Em última análise, todos nós somos completamente dependentes uns dos outros, estamos neste planeta juntos, tentando descobrir como sobreviver e prosperar, e eu acho que essas experiências místicas profundas, mesmo induzidas, talvez possam ajudar a nos colocar na direção certa.
Open – Várias fontes, incluindo os próprios artigos científicos, pareciam sugerir que os indivíduos dos estudos sobre as experiências místicas eram altamente escolarizados, de alta função, e propensos a prática espiritual. Não existe um viés aqui que poderia impedir a prescrição para a população em geral?
MJ – Essa é uma questão interessante e um bom ponto. Através do grande número de estudos que temos realizado, nos tornamos menos específicos em nossa população-alvo. No primeiro estudo que Roland realizou, havia apenas pessoas que já tinham um interesse intenso e uma prática espiritual em curso de algum tipo. Em estudos posteriores, afrouxaram as nossas exigências dessa natureza, e agora está ficando mais perto de uma população geral. No início do estudo, antes que as pessoas entrassem no estudo, coletamos medidas de sua experiência de vida de efeitos do tipo místico, utilizando a escala de misticismo de Hood. Descobrimos que as pessoas em nossos estudos posteriores tinham uma pontuação muito mais baixa do que no estudo inicial. Em meu estudo do cigarro de 15 pessoas, eram pessoas muito “normais” a esse respeito. Alguns tinham interesse em espiritualidade, mas a maioria deles não tinha qualquer interesse particularmente forte. Em relação à escolaridade e especialização, eram sujeitos geralmente muito ativos, embora tendessem a serem um pouco mais da norma. Neste estudo de tabagismo, tivemos um professor de escola primária, tivemos um carpinteiro que conserta móveis, uma babá, bem como um advogado, por exemplo. Assim, embora alguns tivessem, nem todos eles tinham ocupações intelectuais. Além disso, não notamos qualquer diferença real em experiências entre indivíduos altamente intelectuais, ou pessoas com alto nível socioeconômico e as pessoas mais na linha da normatividade.
Open – Existem diferenças significativas de uma substância para outra, ou tudo gira em torno de ter a experiência psicodélica em si e por si, qualquer que seja a substância que provoca isso?
MJ – Nós não sabemos ainda. Muito do recente ressurgimento de interesse em psicodélicos foi na pesquisa feita com psilocibina. Nossa presunção com muitas dessas questões de investigação é que resultados semelhantes seriam obtidos com LSD, mescalina e os outros psicodélicos clássicos. Mas isso é apenas uma suposição. Nós sabemos que eles têm caminhos biológicos comuns. Eu acho que há potencial para ambas as possibilidades. Quando comparamos a nossa investigação com a pesquisa mais antiga com LSD, e quando você compara essas experiencias com psilocibina às ocorrências naturais, às experiências misticas não ocasionadas por drogas, você vê semelhança substancial. Mas, ao mesmo tempo, sabemos que estas várias drogas psicodélicas têm tons diferentes de efeitos, mesmo que os psicodélicos clássicos tenham todos efeito no mesmo receptor 2A de serotonina. Sabemos também que eles diferem em seus efeitos em uma variedade de outros locais do receptor, e é provável que representem algumas das diferenças mais sutis em efeitos subjetivos que as pessoas vão relatar. Às vezes, os efeitos podem ser específicos para o individuo: algumas pessoas relatam que por exemplo, psilocibina é psicologicamente mais suave, e que o LSD é mais intenso, e as outras pessoas vão relatar exatamente o oposto. Tudo isso está informando do uso anedótico ou recreativo. Todas essas perguntas devem ser examinadas em laboratório sob condições duplo-cegos para realmente validá-los. Existe uma grande quantidade de excitação que, se houver qualquer investigação da psilocibina ou um ou alguns destes compostos psicodélicos, temos toda uma biblioteca de centenas de compostos à espera, muito do trabalho que Sasha Shulgin e David Nichols e outros que trabalharam para criar dezenas de compostos que são derivados da triptamina ou da estrutura da feniletilamina. Vai ser realmente emocionante acompanhar essa pesquisa inicial com psilocibina com uma grande variedade de compostos. Pode ser que eles generalizem muito, mas – Estou apenas especulando aqui – talvez uma dessas outras triptaminas substitutas podem ser tão eficazes para a ansiedade relacionada ao câncer como a psilocibina, mas talvez tenha menor chance de difíceis experiências intensas , ou talvez seja de duração mais curta ou mais longa, de uma forma que se torne mais ideal para o tratamento. Eu acho que há um grande potencial, e nós estamos em nossa infância em examinar essas coisas, por isso há um monte de coisas interessantes para vir à frente.
MJ – Sim, para o nosso grupo na Universidade Johns Hopkins e para uma série de outros pesquisadores que reiniciaram a pesquisa na última década, eu acho que havia um senso que politicamente queriamos ficar longe do LSD. Em virtude das pessoas que ficariam de cabelo em pé e reagiriam de forma sensacionalista ao ouvir sobre a pesquisa, o LSD poderia ter um mau começo, porque iria levantar todas as preocupações sobre Tim Leary e sobre a contracultura dos anos sessenta. Em certo sentido, a psilocibina foi um pouco mais segura politicamente porque não era um psicodélico proeminentemente utilizado para fins recreativos na década de 60 – que era principalmente o LSD. Sabemos também que, ao lado do LSD e da mescalina, a psilocibina é um dos psicodélicos clássicos que receberam a maior parte das pesquisas, na era das investigações psicodélicas, a partir dos anos 50 até os anos 70, por isso não havia um bom background sobre a toxicologia e farmacologia básicas. Se estivéssemos começando com um novo composto de marca que nunca foi administrado aos seres humanos, haveria muitos estudos básicos de segurança que precisariam ser feitos em animais e em estudos iniciais com seres humanos. Então a psilocibina coube na conta muito bem, e também, o seu curso de tempo passa a ser bastante conveniente: cinco a seis horas. Ela se encaixa em um dia de trabalho terapêutico um pouco mais fácil do que as experiências 10-12 horas podemos ter com LSD ou mescalina.
Open – Houve algumas campanhas recentes para uma mudança legislativa sobre os psicodélicos ( Nature Reviews Neuroscience em junho de 2013, a Scientific American, em fevereiro de 2014). Existem esforços concretos feitos para baixas essas substâncias de categoria de riscos, a fim de facilitar a pesquisa?
MJ – O esforço mais concreto seria avançar para a fase 3 do estudo para a ansiedade e depressão relacionada ao câncer. Isso é algo que um certo número de grupos de pesquisa nos EUA têm falado, e estamos nos preparando para entrar na fase 3 de investigação após o nosso estudo de fase 2 e um estudo na Universidade de NY (NYU) estarem concluídos. Nós já completamos todos as etapas, então vai ser em breve. Se a fase 3 for bem sucedida em termos de segurança e eficácia, conduzirá à possibilidade de uma mudança de programação. Isso seria um caminho dentro do sistema atual para chegar a uma mudança de programação, muito especificamente para um composto e uma indicação. No momento, um monte dos editoriais que você já citou, também estão levantando preocupações de forma mais ampla, indiferentes à fase 3 da pesquisa que solicita o reavaliação de um composto particular. Existe a preocupação de que a colocação de muitos desses compostos na Categoria I, e as pesadas restrições que temos para tal categoria, pode limitar seu potencial de desenvolvimento clínico. Um aspecto disso é que não há empresas farmacêuticas interessadas em desenvolver estes compostos, e uma das razões para isso é porque eles estão na Categoria 2, de modo que é uma aposta muito ruim para investir milhões de dólares em um composto terapeutico se ele já está no mais alto nível de restrição e se não parece haver esperança de que isso vai mudar. Isso também torna a pesquisa muito mais difícil por ter uma substância de Categoria I em face a outras categorias. É irônico que possa ser muito mais difícil fazer a pesquisa com psilocibina ou com cannabis, que são drogas de Categoria I, nos EUA, do que com a cocaína, metanfetamina e muitos dos opióides, porque estes são de Categoria II ou de categorias menos restritivas. Assim, mesmo que um determinado composto não tenha passado por todas as etapas para merecer aprovação clínica, ainda há essa noção – e eu concordo com ela – que o nível de regulação é demasiadamente pesado, e que o sistema não está incentivando o bastante a exploração científica cuidadosa destes compostos diferentes. Há uma noção geral em toda a psiquiatria que em algum grau atingimos o nosso limite em muitos dos métodos de tratamento convencionais, e por isso temos de ser mais abertos, e ter um sistema mais flexível para a realização de pesquisas seguras com alguns destes compostos atualmente muito restrito.
Open – Após os testes da fase 3 estarem concluídos, e se forem bem sucedidos, você teme uma resistência renovada, que seria de natureza mais psicológica ou política, da sociedade e dos legisladores?
MJ – Eu acho que haverá alguma resistência, e eu acho que a única coisa que podemos fazer é confiar nos dados, e realizar esta pesquisa de forma responsável. As preocupações sobre psicodélicos estão realmente relacionados com o uso recreativo descontrolado. De fato elas são mais leves quando se trata de realização de pesquisas ou de uso clínico aprovado. Para fazer uma analogia, sabemos que drogas como a heroína tem uma toxicidade incrível e estão associadas a altas taxas de mortalidade – o que é inquestionável. Mas a heroína é praticamente idêntica ao outros medicamentos que usamos em ambientes médicos, e esses são indispensáveis para a prática da medicina. Então mentalmente criamos uma distinção entre o uso de risco descontrolado de heroína e outros opiáceos na rua em face ao uso cuidadoso de morfina e outros medicamentos de mesma classe nas clínicas. Por exemplo, quando sob triagem médica cuidadosa, as pessoas não param de respirar por causa de opióides, porque tal caso seria facilmente detectável e reversível, uma vez que isso aconteceria em um ambiente médico, ao passo que as pessoas infelizmente param de respirar muitas vezes, no abuso recreativo de heroína intravenosa. Assim, da mesma forma, com psicodélicos, ocasionalmente, mesmo que seja relativamente pouco frequentes, as pessoas podem ter ataques de pânico e se machucar, elas podem responder de forma irregular, elas podem correr para uma rodovia, elas podem acidentalmente cair de alguma altura. Eles vão fazer as coisas que as pessoas fazem com muitas outras drogas, como o álcool. Mas essas coisas são muito controláveis em uma pesquisa ou contexto terapêutico. Eles não acontecem em contextos de investigação cuidadosamente controlados, porque temos todas as salvaguardas em vigor. Assim, quanto mais nós apresentarmos uma investigação cautelosa e transmitirmos a forma como essas intervenções clínica são feitas, mais somos capazes de abordar essas preocupações políticas.
Open – O quão ruim é a imagem de vocês pesquisadores psicodélicos, considerados “mavericks” dentro do campo científico, por estudar coisas como drogas e experiências místicas? Isto é um obstáculo para a eventual apresentação dos resultados na sociedade em geral?
MJ – Não muito, eu acho. Há um pouco disso, mas acho que isso está mudando rapidamente. É engraçado, por vezes, os jornalistas da mídia querem destacar a polêmica e eles vão procurar um clínico que não concorda com essas coisas, muitas vezes, alguém que dirige uma clínica de drogas ou algo assim, que vai apenas dizer: “oh, isso soa perigoso.” Mas, realmente, no campo científico, para quem estuda o vício e os malefícios do abuso de drogas, não há muita polêmica. O grupo varia de pessoas que pensam que isso é muito promissor e que estão felizes que este tipo de pesquisa esteja acontecendo mais uma vez, até pessoas que pensam que isso pode ser um pouco estranho e não apostariam seu dinheiro nisso, mas que concordam que é adequado realizar pesquisas cuidadosas. Ninguém está confiante em dizer que esta não é uma investigação médica científica legítima. Realmente não há tanta polêmica, e eu acho que quanto mais tempo e outros pessoas vierem a conduzir pesquisas, mais as pessoas respeitarão os dados. Eles podem ver por si mesmos que esta natureza mística da experiência é repetidamente um definidor do resultado terapêutico de longo prazo, para que eles reconhecem que isso é uma construção científica significativa. Estas são também as construções que são conhecidas e respeitadas em outras áreas da psicologia como mecanismos de mudança. Então eu acho que essa coisa está cada vez mais se tornando popular, e eu acho que não teremos muitos obstáculos. Eu diria que para mim tem sido mais motivo de orgulho, ao vermos de pessoas dizendo: “uau, isso é realmente interessante! Que bom que você explora cautelosamente algo que está fora da caixa e que precisa de atenção! “
Open – Você acha que pode haver outros obstáculos que tragam novamente algum impasse à pesquisa psicodélica, como aconteceu antes? Ou você acha que ela vai continuar a evoluir em prática padrão?
MJ – Eu acho que vai seguir em frente e não vai ser interrompida da forma como foi nas décadas anteriores. Eu não sei de forma definitiva, mas isso é o que meu instinto me diz. Como uma sociedade, nós estamos operando de uma maneira muito mais madura agora. Além disso, na década de 1960, os psicodélicos estavam combinados com tantas outras mudanças sociais que em última análise, foi um pouco traumático para a sociedade. Psicodélicos provavelmente pegaram muito da culpa, apesar de apenas alguns danos individuais causados. Mas muito era apenas impressão. Havia uma razão para as pessoas estarem protestando contra a guerra do Vietnã, a luta pelos direitos civis, direitos das mulheres, etc., completamente fora do fato de que havia drogas psicodélicas. Hoje a sociedade mudou em muitos aspectos, e eu acho que essa pesquisa pode ser compartimentada e pode ser visto pelo que ela é: uma avenida interessante que pode ser útil na medida em que pode abordar questões intrigantes sobre a mente e a biologia, e pode ter resultados terapêutico. Mas eu estou confiante de que, se algum pesquisador desonesto vem e conduz algo perigoso, seria mais claro agora que as coisas dariam errado porque que o pesquisador é perigoso e faz a coisa de maneira inadequada. Assim como se alguém estivesse a aplicar uma dose perigosa de morfina e não monitorar a respiração do paciente em ambiente hospitalar. Isso seria visto mais como um problema individual e não como uma razão para parar de usar analgésicos opióides. Estou esperançoso de que esse é o ponto onde estamos com psicodélicos.
Fonte:http://mundocogumelo.com/2015/02/11/terapia-com-psicodelicos-pode-estar-disponivel-em-uma-decada/
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