O triunfo da mente: somos aquilo em que acreditamos
Ex-votos sob a forma de fotografias, enchem uma sala de orações nas traseiras do Santuário Madonna dell’Ambro, em Montefortino (Itália). Foram aqui deixados na esperança de cura ou em agradecimento. Alguns estudos sugerem que a frequência regular de serviços religiosos pode melhorar a saúde.
Num certo sentido, quer Mike Pauletich quer Richard Mödl participaram numa atuação, atuação essa em que os seres humanos se vêem envolvidos há milhares de anos, de cada vez que consultamos um curandeiro, na esperança de que ele (ou ela) nos façam sentir melhores. E, tal como uma boa atuação teatral nos pode envolver de forma a sentirmos que estamos a assistir a algo real, também o teatro da cura está concebido de maneira a envolver-nos, criando expectativas poderosas nos nossos cérebros. Estas expectativas conduzem ao chamado efeito placebo, que pode afetar o que acontece no nosso organismo. Há várias décadas que os cientistas conhecem o efeito placebo e têm-se servido dele como controle nos ensaios clínicos. Agora consideram que o placebo é uma janela para compreender os mecanismos neuroquímicos que fazem a ligação entre a mente e o corpo, entre a fé e a experiência.
Exames TEP revelam quantidades quase iguais de dopamina libertada no cérebro de um doente com Parkinson quando o fármaco L-dopa lhe foi administrado (à esquerda) e quando o mesmo doente foi medicado com um placebo, depois de ser informado que havia 75% de possibilidades de o comprimido conter L-dopa. As expectativas geradas por placebos podem contribuir para o tratamento de distúrbios do sistema nervoso. Fotografia Sarah Lidstone, Universidade da Colúmbia Britânica.
Como pode uma crença tornar-se tão potente a ponto de curar? Voltemos ao teatro: os cenários e os figurinos são um fator decisivo para uma atuação inspiradora. Mike Pauletich experimentou melhorias nos sintomas devido à totalidade da experiência: os médicos com as suas batas brancas, de estetoscópio ao pescoço; os enfermeiros, os exames gerais, as análises clínicas, talvez até a música de má qualidade ouvida na sala de espera do hospital. Por vezes, os médicos chamam teatro da medicina a esta envolvente da vida hospitalar.
Esta encenação alarga-se a muitos aspectos do tratamento e pode, até, atuar a nível do subconsciente. Os placebos caros dão melhor resultado do que os baratos. Os placebos em embalagens de marca resultam melhor do que os genéricos. Na França, têm mais êxito os placebos sob a forma de supositório, enquanto os ingleses preferem os placebos de administração oral. Acontece frequentemente que as injeções falsas resultem melhor do que comprimidos falsos. Mas as falsas intervenções cirúrgicas parecem ser as mais eficazes.
No decurso de um ensaio na Universidade de Stanford, Mike Pauletich acreditou ter sido submetido a uma intervenção cirúrgica para aliviar os sintomas da doença de Parkinson. Na realidade, fora submetido a uma cirurgia simulada, mas sentiu consequências positivas palpáveis.
Mais surpreendente ainda: os placebos podem resultar mesmo quando o indivíduo que os toma sabe que são placebos. Este fato ficou documentado num estudo de 2010, agora clássico, publicado pelo investigador Ted Kaptchuk, da Faculdade de Medicina de Harvard. Depois de 21 dias ingerindo placebo, doentes com síndrome do cólon irritável sentiram-se muito melhor em comparação com outros que nada tomaram, embora as pessoas que manifestaram melhorias tivessem sido previamente informadas (e mais tarde recordadas) de que estavam tomando placebo.
A experiência demonstrou que um bom relacionamento médico-doente era fundamental para criar a fé num resultado de sucesso.
Enquanto Russell Price permanece acordado, os médicos introduzem um microelétrodo no seu crânio (visível na TAC, à direita) que fornecerá ECB às regiões do cérebro onde a doença de Parkinson gera certos sintomas debilitantes como tremores, rigidez, perda de equilíbrio e redução do movimento. Segundo a mulher de Price, a sua fala melhorou. Os tremores diminuíram e ele sente-se uma pessoa diferente. No topo: fotografado no Instituto McKnight do Cérebro. Em cima: fotografia Max Aguilera-Hellweg, a partir de imagem de TAC fornecida por Kelly Foote, Universidade da Florida
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