DOENÇAS NEURO DEGENERATIVAS: O QUE O DIAGNÓSTICO PRECOCE DE PARKINSON, ALZHEIMER E ESCLEROSE LATERAL AMIOTRÓFICA SIGNIFICA

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Doenças neurodegenerativas (Foto: Colagem: Andressa Bezerra)

Doenças neurodegenerativas (Foto: Colagem: Andressa Bezerra)

  • GIULIANA CURY
 ATUALIZADO EM 

Parkinson, Alzheimer, Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA). Até pouco tempo atrás, falar (ou pensar) nessas doenças, era algo que a maioria de nós fazia relacionando com idade avançada. Eram consideradas doenças de velhos. Recentemente, entretanto, passamos a ouvir cada vez mais casos de pessoas na faixa dos 40, 50 anos, sendo diagnosticadas com essas enfermidades, como foi o caso da jornalista Renata Capucci, que revelou sofrer de Parkison desde 45 anos.

Com essas histórias, é impossível não começar a fazer questionamentos: os casos precoces de doenças neurodegenerativas estão realmente aumentando? Dá para se prevenir? Questões ambientais interferem no aparecimento delas? Para ajudar a esclarecer essas e outras dúvidas — e entender melhor essas doenças — conversamos com vários neurologistas.


“É o grupo de patologias que  envolve a degeneração e morte de neurônios”, define o neurologista Felipe Barros, preceptor da residência de Neurologia do Hospital Israelita Albert Einstein e neurologista do Hospital Sírio Libanês. “De modo geral, no Alzheimer ocorre a morte dos neurônios relacionados à memória. No Parkinson, dos que envolvem os movimentos. E, na Esclerose Lateral Amiotrófica, ocorre a degeneração dos neurônios relacionados à atividade motora e força”, completa o especialista.

Os casos precoces estão realmente aumentando?

“Não há pesquisas que confirmem isso. Mas, o que podemos afirmar é que, com o avanço da medicina, conseguimos diagnosticar as doenças mais cedo, na fase inicial. Isso pode dar a sensação de que há mais casos”, explica o dr. Barros. A constatação é corroborada pela neurologista Sonia Brucki, Coordenadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo: “Falando da minha especialidade, o Alzheimer, a gente percebe que as pessoas estão muito mais ligadas aos movimentos cognitivos, que envolvem a memória, a linguagem, o raciocínio. Quando percebem alterações persistentes nessas áreas, sejam nelas mesmas ou em parentes, buscam ajuda. E isso ajuda a chegar a uma diagnose mais cedo — e, por extensão, a ter um aumento de casos precoces”, completa a especialista. Também compartilha dessa opinião, o neurologista Carlos Otto Heise, chefe do setor de eletroneuromiografia da divisão de neurologia do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo: “Sempre existiram os casos precoces, como o do astrofísico Stephen Hawking [que foi diagnosticado aos 21 anos e morreu aos 76]. O que mudou, é que hoje as pessoas prestam muito mais atenção aos sintomas e procuram ajuda antes”, acrescenta o dr. Heise.

Os benefícios de um diagnóstico precoce

Como acontece com qualquer outra doença, quanto antes ela é descoberta, mais cedo começa o tratamento. “Hoje, essas patologias ainda não têm cura. Então, a descoberta prematura é uma oportunidade para iniciar o acompanhamento, os recursos terapêuticos e a reabilitação do paciente antes de os sintomas mais severos se instalarem. E, com isso, conseguimos retardar o avanço do quadro clínico, melhorando a qualidade de vida de quem tem a enfermidade”, diz o dr. Barros.

O que causa essas doenças?

A maioria dos distúrbios neurodegenerativos, e são centenas deles, acontece por uma combinação de fatores genéticos e ambientais. E, por isso, é tão difícil prever quem desenvolverá a doença. Com relação ao Alzheimer, em 2020, a revista científica britânica The Lancet listou 12 fatores de risco associados ao aparecimento do problema, entre eles o sedentarismo, tabagismo, depressão, hipertensão, diabetes, poluição e consumo excessivo de álcool. “Ao prestar atenção a esses fatores e fazer mudanças para neutralizá-los, descobriu-se que é possível retardar ou prevenir até 40% dos casos”, diz a dra. Sonia Brucki. “E o que se sabe em relação ao Parkinson, por exemplo, é que alguns tipos de agrotóxicos estão relacionados ao desenvolvimento do problema, assim como a poluição, e que a prática de atividade física ajuda a retardar o aparecimento dos sintomas ”, acrescenta o dr. Barros. Já sobre o ELA, as pesquisas científicas ainda não conseguiram evoluir muito. “Essa doença é muito complexa. Sabe-se que existe um percentual grande de origem genética, mas a maior parte dos casos ainda é considerado esporádico, não sabemos por que surgiu” explica o dr. Heise. O especialista acrescenta que existem alguns estudos que relacionam o esforço físico de alta performance, a sobrecarga intensa, ao risco aumentado de se desenvolver a Esclerose Lateral Amiotrófic. “Mas sem uma confirmação 100%, ainda”, completa.

Quais são os sinais de alerta?

Cada doença tem os seus sintomas particulares. Os médicos explicam que é muito importante ficar atento ao corpo, para sentir se essas manifestações começam a evoluir ou se intensificar. E, então, procurar um especialista para uma avaliação. Veja os principais pontos levantados pelos especialistas:

Parkinson A degeneração acontece, sobretudo, nos neurônios ligados ao movimento. Os principais sinais da doença são: tremor nas mãos, braços, pernas e cabeça; contração muscular por longo período; diminuição dos movimentos, perda do equilíbrio e da coordenação. Além disso, percebe-se mudanças comportamentais, como alteração no sono, dificuldade de memória, depressão e cansaço.

Alzheimer Como muitos dos sintomas podem ser confundidos com outros problemas, como stress e depressão, e é muito importante perceber a frequência com que ocorrem e se eles vão se intensificando, a ponto de impactar a vida. Alguns sinais precoces: falhas de memória, confusão mental, guardar objetos em lugares que não são deles (chaves dentro da geladeira, por exemplo), problemas para dormir, apatia e vontade de ficar sozinha, dificuldade para pensar de forma lógica ou para fazer contas simples.

Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) Os três principais sintomas da doença são fraqueza muscular com o enrijecimento dos músculos (esclerose), que começa primeiro em um dos lados do corpo (lateral), e a atrofia muscular (amiotrófica). Tremor dos músculos e câimbras também costumam ser frequentes.

Dá para previnir?

Ainda não é possível evitar o aparecimento dessas doenças. Mas algumas ações e alguns tratamentos podem ajudar a retardar o avanço do quadro clínico. Por se tratarem de patologias neurodegenerativas, é importante buscar um estilo de vida saudável para, então, ter um envelhecimento cerebral também saudável. E o combo para o bem-estar a gente sabe: atividade física, redução da obesidade, alimentação saudável, sono restaurador, não fumar, não consumir álcool em excesso e sempre ficar de olho em indícios de diabetes ou hipertensão, para fazer o um tratamento adequado.

Fonte:https://vogue.globo.com/Wellness/noticia/2022/07/doencas-neurodegenerativas-o-que-o-diagnostico-precoce-de-parkinson-alzheimer-e-esclerose-lateral-amiotrofica-significa.html

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