Uso de maconha é relacionado a alterações epigenéticas, diz estudo
As mudanças identificadas em nova pesquisa sobre a cannabis levantam questões sobre efeitos de longo prazo da substância
Por Redação Galileu
05/08/2023 10h53 Atualizado há 6 dias
Uma pesquisa realizada recentemente pela Universidade Northwestern (EUA) e publicada na revista Molecular Psychiatry traz à tona novas informações sobre o impacto do uso prolongado da maconha no epigenoma humano – isto é, as marcas químicas que determinam a quantidade expressa de genes. O novo estudo revelou que o consumo regular da cannabis está associado a mudanças significativas na metilação do DNA, processo que modifica a expressão gênica.
A cannabis é a droga mais consumida nos Estados Unidos, com dados dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças do país apontando que cerca de 18% da população estadunidense, aproximadamente 48,2 milhões de pessoas, utilizaram a erva pelo menos uma vez em 2019. Apesar de sua crescente popularidade e da legalização em vários estados, os efeitos do consumo dessa planta na saúde ainda não são completamente compreendidos.
“Identificamos anteriormente associações entre o uso de maconha e o processo de envelhecimento, conforme indicado pela metilação do DNA. Queríamos explorar ainda mais se fatores epigenéticos específicos estavam associados à maconha e se esses fatores estão relacionados a resultados de saúde”, diz Lifang Hou, chefe de Epidemiologia e Prevenção do Câncer no Departamento de Medicina Preventiva da Northwestern, em comunicado.
Substância psicoativa
A metilação do DNA é um tipo de mecanismo epigenético. Nesse processo biológico, grupos químicos conhecidos como metil são adicionados ou removidos da molécula de DNA. Essas modificações podem ser causadas por fatores ambientais e estilo de vida.
A metilação não altera a sequência do DNA, mas influencia a atividade do gene.
A análise da metilação do DNA permite que cientistas verifiquem mudanças no epigenoma, e, assim, identifiquem biomarcadores dinâmicos ou estáveis no organismo humano. Assim, os pesquisadores podem entender como o uso recente ou cumulativo da maconha age na genética do corpo humano – e como esse impacto no DNA pode influenciar na saúde do paciente posteriormente.
No novo estudo, a equipe analisou amostras de sangue de mais de 900 adultos que já haviam participado da pesquisa Coronary Artery Risk Development in Young Adults ("Desenvolvimento de Risco de Artéria Coronária em Jovens Adultos", em tradução livre). Os voluntários tiveram suas amostras coletadas em dois momentos, com um intervalo de cinco anos entre eles.
Os cientistas questionaram cada participante sobre o uso recente e cumulativo de cannabis e, em seguida, realizaram a análise de metilação do DNA nas amostras de sangue para investigar mudanças epigenéticas associadas ao consumo da planta.
“Identificamos vários marcadores e vias de metilação, além de doenças associadas ao uso recente e cumulativo de cannabis em adultos de meia-idade. Isso fornece informações adicionais sobre a associação entre o uso de cannabis e o epigenoma”, contam os pesquisadores no estudo.
Segundo Hou, muitas das mudanças epigenéticas foram encontradas em vias anteriormente ligadas à proliferação celular, sinalização hormonal, infecções e distúrbios de saúde mental, como esquizofrenia e transtorno bipolar.
“Curiosamente, identificamos consistentemente um marcador que já foi associado ao uso de tabaco, sugerindo uma potencial regulação epigenética compartilhada entre o uso de tabaco e maconha”, acrescenta a especialista.
Embora o estudo não tenha estabelecido uma relação causal direta entre o uso de maconha e as mudanças no epigenoma humano, nem entre essas mudanças e os resultados de saúde observados, as descobertas são valiosas e podem orientar pesquisas futuras sobre os efeitos epigenéticos do uso da maconha.
"Estudos adicionais são necessários para confirmar essas associações em diferentes populações e compreender os efeitos de longo prazo da maconha na saúde”, destaca Drew Nannini, pós-doutorando no laboratório de Hou e primeiro autor do estudo.
Fonte:https://revistagalileu.globo.com/saude/noticia/2023/08/uso-de-maconha-e-relacionado-a-alteracoes-epigeneticas-diz-estudo.ghtml
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