Atomoxetina: por que o novo remédio para o TDAH tem chamado atenção?
Atentah é o primeiro medicamento não estimulante para tratar o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade lançado no Brasil. Ele surge como uma alternativa para pacientes que têm outros transtornos psicológicos associados ao TDAH e pioram com o uso de psicoestimulantes, como a Ritalina e o Venvanse
Por Alice Arnoldi, Colaboração Para Marie Claire — São Paulo
31/10/2023 16h58 Atualizado há um dia
Como explica a psiquiatra Fabricia Signorelli Galeti, do ambulatório de TDAH em adultos da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), antes da liberação do fármaco com atomoxetina, o tratamento medicamentoso do transtorno de déficit de atenção com hiperatividade era realizado apenas com estimulantes, como a Ritalina e o Venvanse.
O problema de ter apenas essa classe de fármacos disponível no mercado é que os pacientes com TDAH tendem a apresentar outros transtornos psicológicos associados a ele, que podem acabar piorando com o uso de estimulantes.
“A atomoxetina pode ser uma boa escolha terapêutica para pacientes com TDAH associados a outros transtornos psiquiátricos que podem ter seus sintomas exacerbados com o uso de psicoestimulantes, como quem tem tiques, ansiedade, distúrbios do sono e transtorno de uso de substâncias”, detalha a especialista.
De acordo com a psiquiatra Christiane Ribeiro, membro da comissão de estudos e pesquisa em saúde mental da mulher da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), há levantamentos que indicam que 70 a 80% dos pacientes com TDAH apresentam outro quadro psiquiátrico, sendo depressão e ansiedade os mais prevalentes.
“A ação da atomoxetina como antidepressivo garante a eficácia também em relação aos sintomas depressivos e ansiosos, que normalmente acontecem junto ao TDAH”, completa a psiquiatra. Os estimulantes não conseguem agir da mesma forma.
Menos chances de dependência química
Cerca de 15% dos pacientes com TDAH têm transtorno de uso de substâncias. Isso pode ser potencializado pela utilização de estimulantes que são da classe de anfetaminas e podem causar dependência química, caso não sejam usados corretamente. Com a atomoxetina, esse cenário tende a mudar.
“Do ponto de vista farmacológico e cerebral, esse novo medicamento atuaria de forma menos significativa na neurotransmissão de dopamina e norepinefrina no núcleo accumbens, região denominada de 'o centro de prazer' do nosso cérebro, causando menos chance de dependência”, esclarece Christiane Ribeiro.
Ainda de acordo com a psiquiatra, há o risco de o paciente adquirir resistência à medicação com os estimulantes, o que faz com que ele precise cada vez mais de doses maiores para ter os mesmos resultados.
“Um diferencial da atomoxetina é o potencial mais baixo de abuso e, por conta disso, a dependência química com o medicamento não é comum”, reforça Fabricia Signorelli Galeti.
De acordo com o hebiatra Williams Ramos, gerente médico da Apsen, isso se dá porque a atomoxetina age diretamente na área do cérebro que está relacionada ao funcionamento cognitivo. Isso sem precisar acionar outras ao mesmo tempo, como acontece com os estimulantes.
“Trata-se do primeiro medicamento não estimulante que tem uma ação muito mais direcionada e seletiva sob os receptores noradrenérgicos, que estão localizados no córtex pré-frontal do cérebro. As outras medicações estimulantes normalmente agem nessa região e em outras ao mesmo tempo”, afirma o especialista.
Essas outras áreas podem estar relacionadas ao abuso de substâncias químicas.
Quem não pode usar a atomoxetina?
Fabricia Signorelli Galeti pontua que o medicamento com o princípio ativo de atomoxetina não deve ser usado principalmente por quem tem alergia a ele e a inibidores de monoamina oxidase, um tipo de enzima.
Além disso, ele não é indicado para pessoas com histórico de glaucoma de ângulo estreito, feocromocitoma, doenças cardiovasculares graves que não toleram aumentos de pressão arterial ou da frequência cardíaca e em casos de hipertireoidismo não controlado.
Efeitos colaterais da atomoxetina
O paciente ao usar atomoxetina pode ter náusea, vômito, dores abdominais, constipação, boca seca, perda de apetite, dor de cabeça, sonolência ou insônia e alterações no humor. O remédio ainda pode causar disfunções cardíacas em quem tem histórico de problemas no coração.
“Vale ressaltar que a maioria dos efeitos colaterais são leves e devem desaparecer depois que o corpo se adapta ao uso da medicação”, reforça Fabricia Signorelli Galeti.
Quando o Atentah chega ao mercado?
Segundo Williams Ramos, ainda não há uma data específica para a chegada do Atentah às farmácias brasileiras. No momento, o remédio está sendo precificado pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) para, então, entrar em comercialização.
Vale ressaltar que, embora o medicamento seja promissor para o tratamento do TDAH, ele é apenas parte da intervenção, que deve ser multidisciplinar.
Fonte:https://revistamarieclaire.globo.com/saude/noticia/2023/10/atomoxetina-por-que-o-novo-remedio-para-o-tdah-tem-chamado-atencao.ghtml
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