O maior estudo já feito sobre pacientes ressuscitados indica consciência após a morte
A ideia de que a consciência pode continuar após o seu coração parar de bater e seu cérebro parar de funcionar é bem ousada e, naturalmente, enfrenta muito ceticismo. Porém, quanto mais os cientistas estudam o suposto fenômeno, mais certas tendências são reforçadas, dando-nos um vislumbre do que realmente pode ocorrer quando morremos.
Uma equipe de cientistas da Universidade de Southampton, no Reino Unido, acaba de concluir um estudo de quatro anos com 2.060 pessoas que sofreram paradas cardíacas em 15 hospitais no Reino Unido, EUA e Áustria. Tendo conduzido entrevistas sobre suas memórias do acontecimento com cada uma das 330 pessoas que sobreviveram, os pesquisadores descobriram que 40% delas se sentiram “conscientes” no período de tempo em que foram declaradas clinicamente mortas. A equipe médica nos hospitais conseguiu reiniciar com sucesso os seus corações para que eles pudessem viver para contar a história.
Dos entrevistados, 46% experimentaram uma ampla gama de lembranças mentais que eram incompatíveis com o que consideramos ser verdadeiras experiências de quase morte (EQMs), incluindo sentimentos de medo e de perseguição. Apenas 9% tiveram experiências compatíveis com as EQMs e escassos 2% apresentaram plena consciência compatível com experiência fora do corpo, com lembrança explícita de ver e ouvir eventos.
Mas estes 2% são muito interessantes.
Um homem que participou do estudo descreveu a sensação de que estava assistindo o seu tratamento sob o ponto de vista do canto da sala, enquanto uma mulher conseguir recontar exatamente as ações da equipe de enfermagem, que a ressuscitou após um período de três minutos. Ela conseguiu descrever com muita precisão o som das máquinas que rodeavam seu corpo “morto”.
“Sabemos que o cérebro não pode funcionar quando o coração para de bater, mas neste caso a consciência parece ter continuado por até três minutos enquanto o coração não estava batendo, mesmo que o cérebro normalmente pare de funcionar dentro 20 a 30 segundos depois de o coração ter parado”, conta Sam Parnia, líder do estudo e ex-professor assistente de medicina na Universidade de Southampton, agora sediado na Universidade Estadual de Nova York, nos EUA.
“O homem descreveu tudo o que aconteceu na sala, mas o mais importante é que ele ouviu dois bips de uma máquina que faz um barulho de três em três minutos. Assim, pudemos determinar quanto tempo a experiência durou. Ele parecia muito credível e tudo o que ele disse que tinha acontecido com ele realmente aconteceu”, disse Parnia.
Embora nem todas as pessoas que sobreviveram à provação lembrem ao certo de algum tipo de experiência com a morte clínica – talvez porque a medicação que lhes foi dada alterou a sua função cerebral -, certas tendências emergiram dos que se lembram. Um em cada cinco relataram sentir-se tranquilos e um terço disse que sentiu tempo o acelerar ou desacelerar. Alguns descreveram luzes brilhantes, outros descreveram sentir-se desligados de seus corpos. Alguns sentiram medo de que estivessem afogando.
“As estimativas sugerem que milhões de pessoas tiveram experiências vívidas em relação à morte, mas as evidências científicas são ambíguas na melhor das hipóteses”, explica Parnia. “Muitas pessoas deduziram que eram alucinações ou ilusões, mas parecem corresponder a eventos reais. Essas experiências merecem uma investigação mais aprofundada”.
Dentre as conclusões do pesquisador, uma delas é que os termos “experiência de quase morte” ou “experiência fora do corpo” podem não ser suficientes para descrever a experiência real da morte. Além disso, estudos futuros devem se concentrar em parada cardíaca, que é biologicamente um sinônimo de morte. Além disso, ele também considera que as evidências encontradas em seu estudo indicam que este tipo de fenômeno “merece uma pesquisa genuína e sem preconceitos”.
É claro que qualquer pesquisa sobre o que realmente se passa depois da morte será sempre controversa, devido às enormes dificuldades em reunir provas suficientes para apoiar qualquer coisa que seja cientificamente sólida. contudo, estudos como este são, pelo menos, um intrigante ponto de partida. [Science Alert, io9]
Memórias das experiências de quase-morte são mais reais que a realidade?
O fenômeno da “experiência de quase-morte” (EQM) tem desafiado a ciência por bastante tempo, e as explicações para ele variam muito. Seria o produto de uma mente sob o estresse da morte? Mecanismos psicológicos de defesa? Alucinações?
Alguns neurologistas apontam que todos os fenômenos descritos pelos pacientes têm uma explicação neurológica: a visão de um túnel de luz pode ser o córtex visual entrando em colapso, a sensação de bem-estar e euforia o resultado da química cerebral alterada, e a impressão de estar flutuando no teto do quarto pela disfunção do lobo temporal parietal.
Uma equipe de pesquisadores do Coma Science Group (dirigido por Steven Laureys) e da Universidade de Liège (Serge Brédart e Hedwige Dehon) examinou as lembranças da EQM com a hipótese de que, se fossem produtos da imaginação, suas características fenomenológicas (os detalhes sensoriais, autorreferenciais, emocionais, etc) deveriam ser semelhantes ao de memórias imaginadas. Por outro lado, se fossem experiências de alguma forma similares à realidade, suas características seriam semelhantes a de memórias de eventos reais.
Três grupos de pacientes que sobreviveram a um coma (8 pacientes tiveram EQM, 6 pacientes não, mas tinham memórias do coma, e 7 pacientes sem memórias do coma) e um grupo de voluntários saudáveis receberam questionários sobre memórias de EQM e eventos reais, e os resultados foram surpreendentes.
A partir da perspectiva em análise, não só as lembranças de EQM eram diferentes de memórias de eventos imaginados, mas as características fenomenológicas eram mais numerosas em memórias de EQM do que em memórias de eventos reais.
A interpretação do grupo de estudos é que as EQM não podem ser consideradas como memórias de eventos imaginados, mas como percepções reais. As mesmas condições que criam as EQM parecem também “criar” uma percepção de realidade, que é interpretada pelos pacientes como se viesse do exterior.
De uma certa forma, é como se o cérebro estivesse mentindo para os pacientes, como em uma alucinação. Os eventos de EQM são muito importantes de uma percepção emocional e pessoal, condições que fazem com que as lembranças sejam extremamente detalhadas, precisas e duráveis, rivalizando e superando lembranças de eventos reais.
Embora existam teorias fisiológicas e psicológicas para explicar os mecanismos da EQM, ainda não há uma que consiga explicar todas as experiências relatadas pelos pacientes, e tampouco o presente estudo oferece uma explicação única para a EQM, mas sua contribuição é em direção de que os fenômenos psicológicos são fatores associados aos fenômenos fisiológicos, e não contraditórios.
O estudo conclui que, apesar das similaridades entre EQM e alucinações serem tão marcantes, é necessário fazer mais pesquisas para caracterizar o relacionamento entre estes fenômenos de forma mais precisa. Além disso, mais estudos são necessários para entender as assinaturas neurais das EQM. [Science Daily, PLOS ONE]
Cientistas se aproximam da Teoria da Consciência
Provavelmente desde que os seres humanos foram capazes de entender o conceito de consciência, eles têm procurado compreender o fenômeno. Estudar a mente foi uma vez o domínio dos filósofos, alguns dos quais ainda acreditam que o assunto é inerentemente incognoscível. Porém, os neurocientistas estão tendo progressos no desenvolvimento de uma verdadeira ciência do “eu”.
Cogito ergo sum
Um conceito difícil de definir, a consciência tem sido descrita como o estado de estar acordado e ciente do que está acontecendo ao seu redor, e de ter um senso de si mesmo. O filósofo francês René Descartes propôs no século XVII a noção de “cogito ergo sum” (“Penso, logo existo”), a ideia de que o simples ato de pensar sobre a própria existência prova que há alguém lá para fazer o pensamento.
Descartes também acreditava que a mente era separada do corpo material – um conceito conhecido como dualidade corpo-mente – e que estes reinos interagem na glândula pineal do cérebro. Os cientistas agora rejeitam a última ideia, mas alguns pensadores continuam a apoiar a noção de que a mente de alguma forma é removida do mundo físico.
Enquanto abordagens filosóficas podem ser úteis, os cientistas dizem que elas não constituem teorias de consciência testáveis. “A única coisa que sei é: ‘Eu estou consciente’. Qualquer teoria tem que começar com isso”, afrima Christof Koch, neurocientista e diretor científico do Instituto Allen para a Neurociência, em Seattle (EUA).
Correlatos da consciência
Nas últimas décadas, os neurocientistas começaram a atacar o problema da compreensão da consciência de uma perspectiva baseada em evidências. Muitos pesquisadores têm tentado descobrir neurônios ou comportamentos específicos que estão ligados a experiências conscientes.
Recentemente, pesquisadores descobriram uma área do cérebro que atua como uma espécie de interruptor para o cérebro. Quando esta região, chamada de claustro, é estimulada eletricamente, o paciente fica inconsciente instantaneamente. Na verdade, Koch e Francis Crick, o biólogo molecular que ficou famoso ao ajudar a descobrir a estrutura de dupla hélice do DNA, já haviam proposto a hipótese de que esta região poderia integrar informações entre diferentes partes do cérebro, como o maestro de uma sinfonia.
Contudo, segundo Koch, procurar conexões neurais ou comportamentais para a consciência não é suficiente. Por exemplo, tais ligações não explicam por que o cerebelo, a parte do cérebro que coordena a atividade do músculo, não dá origem à consciência, enquanto que o córtex cerebral (a camada mais externa do cérebro) dá. Isto acontece mesmo que o cerebelo tenha mais neurônios do que o córtex cerebral.
Estes estudos também não explicam como dizer se a consciência está presente ou não, como no caso de pacientes com lesão cerebral, outros animais ou mesmo computadores.
De acordo com Koch, a neurociência precisa de uma teoria da consciência que explique o que este fenômeno é e que tipos de entidades o possuem – e, atualmente, existem apenas duas teorias que a comunidade científica leva a sério.
Informação Integrada
O neurocientista Giulio Tononi, da Universidade de Wisconsin-Madison (EUA), desenvolveu uma das teorias mais promissoras para a consciência, conhecida como teoria da informação integrada, na qual Koch também trabalhou, em parceria com Tononi.
Entender como o cérebro produz o material de experiências subjetivas, tais como a cor verde ou o som das ondas do mar, é o que o filósofo australiano David Chalmers chama de “problema difícil” da consciência. Tradicionalmente, os cientistas têm tentado resolver este problema com uma abordagem que vai de baixo para cima, um tipo de processamento de informação baseado em dados vindos do meio ao qual o sistema pertence para formar uma percepção. “Você pega um pedaço do cérebro e tentar espremer o suco de consciência [dali]”, explica o diretor científico do Instituto Allen. “Mas isso é quase impossível”.
Em contraste, a teoria de informação integrada começa com a própria consciência e tenta trabalhar de marcha ré para entender os processos físicos que dão origem a este fenômeno. A ideia básica é que a experiência consciente representa a integração de uma grande variedade de informações e que esta experiência é irredutível. Isto significa que quando você abrir os olhos (supondo que você tenha uma visão normal), você não pode simplesmente optar por ver tudo em preto e branco, ou ver apenas o lado esquerdo de seu campo de visão.
Em vez disso, seu cérebro tece perfeitamente em conjunto uma rede complexa de informações dos sistemas sensoriais e processos cognitivos. Vários estudos têm mostrado que é possível medir o grau de integração utilizando técnicas de estimulação cerebral e de gravação.
A teoria da informação integrada atribui um valor numérico, “phi”, ao grau de irredutibilidade. Se o phi é zero, o sistema é redutível a suas partes individuais, mas se o phi é alto, o sistema é mais do que apenas a soma de suas partes. Este sistema explica como a consciência pode existir em diferentes graus nos seres humanos e em outros animais. A teoria incorpora alguns elementos do pampsiquismo, a filosofia de que a mente não está presente apenas em humanos, mas em todas as coisas.
Um corolário interessante da teoria da informação integrada é que nenhuma simulação de computador, não importa o quão fielmente replica uma mente humana, jamais poderia tornar-se consciente. Koch colocar desta forma: “Você pode simular o tempo em um computador, mas ele nunca vai ficar ‘molhado'”.
Espaço de trabalho global
Outra teoria promissora sugere que a consciência funciona um pouco como a memória do computador, que pode lembrar e manter uma experiência mesmo depois dela ter passado. Bernard Baars, neurocientista do Instituto de Neurociências de La Jolla, Califórnia (EUA), desenvolveu esta teoria, que é conhecida como a teoria do espaço de trabalho global. Tal ideia é baseada em um conceito antigo de inteligência artificial chamado de quadro negro, um banco de memória que diferentes programas de computador poderiam acessar.
Qualquer coisa, desde a aparência do rosto de uma pessoa a uma memória de infância pode ser reproduzida na lousa do cérebro, onde a informação pode ser enviada para outras áreas do cérebro que irão processá-la. De acordo com a teoria de Baars, o ato de transmissão de informações no cérebro a partir deste banco de memória é o que representa a consciência.
A teoria do espaço de trabalho global e a teoria da informação integrada não são mutuamente excludentes, diz Koch. As primeira tenta explicar em termos práticos se algo é consciente ou não, enquanto a segunda procura explicar como a consciência funciona de forma mais ampla. “Neste momento, ambas podem ser verdade”, conclui. [LiveScience]
A consciência não está no cérebro
Antigamente, considerava-se que o lar da consciência era o coração. Com a evolução da ciência, os estudiosos e neurocientistas acreditam que é no cérebro que está a “voz de nossa razão”. No entanto, mesmo atualmente, há uma parcela de céticos que contestam essa informação.
O fato é que a neurociência prega que há relações precisas entre a atividade cerebral e funções mentais, estados ou experiências. O pesquisador Harold Pasher da Universidade da Califórnia acredita que as relações apresentadas pela neurociência são mais precisas do que deveriam, devido aos métodos atuais de medição, que não são ideais. Além disso, ele afirma que dificilmente, em pesquisas da neurociência, o método exato para a obtenção dessas relações é informado.
Apesar de alguns verem as queixas de Pasher como irrelevantes – já que, com o avanço da ciência, novos métodos mais exatos poderão ser desenvolvidos e comprovar que a consciência realmente está no cérebro – a discussão é um pouco mais profunda. Se a neurociência diz que é possível relacionar consciência com atividade cerebral, a mesma neurociência, uma ciência física, pode dizer o que a consciência humana realmente é.
Os céticos acreditam que essas relações não podem provar a consciência. Digamos, a sensação de frio e uma atividade no hemisfério esquerdo do cérebro (apenas um exemplo não científico) não são a mesma coisa e nem aspectos da mesma coisa. A própria definição de aspectos depende de uma consciência independente de atividades cerebrais.
É lógico que a sensação de frio depende de estímulos que acontecem no cérebro, mas esses estímulos não são a mesma coisa que a sensação de frio.
Além disso, há um problema sobre a memória. Nos acostumamos a pensar em nossas memórias como arquivos armazenados em algum lugar do nosso cérebro. Mas quando lembramos de alguma coisa, estamos pensando em algo que é explicitamente do passado. As sinapses, as ligações que nossos neurônios fazem e que, de acordo com a neurociência, formariam nossos pensamentos, são estruturas físicas e só possuem seu estado presente. De acordo com os céticos, elas não podem ter um senso de passado, como nós temos, ou seja, o passado não existe em uma forma física em nosso cérebro, apenas em nossa consciência, que não seria física.
A falha da ciência em explicar a consciência vem da natureza contraditória da tarefa. É impossível explicar aparências usando uma abordagem objetiva. Enquanto o cérebro for visto apenas como um órgão com massa determinada e estímulos e a consciência for buscada na forma de sinapses e ligações, os céticos acreditam que buscar a consciência no cérebro é uma missão impossível. [New Scientist]
Estas células cerebrais são responsáveis pela consciência?
Nossa história começa no ano de 1926, com o neurologista Constantin von Economo. Ele examinou células neuroniais e encontrou um grupo de células diferentes das outras outras células neuroniais. Em vez do aspecto piramidal, elas tinham uma forma alongada, e eram entre 50% e 200% maiores que as demais células.
A princípio, ele pensou que se tratava de uma patologia, uma doença, mas ao encontrar as mesmas células em outros cérebros, inclusive de animais diferentes, ele chegou à conclusão que deveriam ter alguma função; alguma coisa relacionada ao olfato e paladar, já que eram sempre encontradas nas mesmas duas estruturas envolvidas com estes sentidos.
Mas a época era ingrata: ele não tinha como investigar mais a fundo estas células, portanto voltou-se para outras linhas de pesquisa mais promissoras. Não sem antes dar seu nome às células, os neurônios de von Economo (VEN na sigla em inglês). Oitenta anos depois, os pesquisadores Esther Nimchinsky e Patrick Hof, trabalhando na Universidade Monte Sinai, em Nova Iorque (EUA), se depararam estes estranhos neurônios. E depois de uma década de imageamento funcional e estudos post-mortem, a história destas células está sendo montada.
Algumas linhas de evidências sugerem que elas podem ajudar a contruir a nossa rica vida interior, que chamamos de consciência, incluindo as emoções, nosso sentido de “eu”, empatia, e a capacidade de navegar pelos relacionamentos sociais.
ACC e FI
Antes vamos dar uma espiada na região em que os VENs são encontrados, o Córtex Cingulado Anterior (ACC, de Anterior Cingulate Cortex) e a Ínsula Anterior (FI, de Fronto-Insula). Estas duas regiões apresentam atividade quando percebemos algumas pistas socialmente importantes, como uma cara fechada, um esgar de dor, ou quando ouvimos a voz da pessoa amada.
Quando uma mãe ouve um choro de bebê, a resposta nestas regiões é muito forte. Elas também apresentam atividade quando experimentamos emoções como amor, desejo, raiva ou tristeza. Para o neuroanatomista John Allman, do Instituto de Tecnologia Califórnia em Pasadena (EUA), eles se somam a uma “rede de monitoramento social”, que detecta as pistas sociais e permite que mudemos nosso comportamento de acordo.
Estas duas áreas também parecem exercer um papel importante na rede que mantém um controle subconsciente do que está acontecendo ao nosso redor e direciona nossa atenção aos eventos mais importantes, além d monitorar as sensações do corpo para detectar quaisquer mudanças.
Além disso, as duas regiões ficam ativas quando uma pessoa reconhece seu reflexo no espelho, sugerindo que estas partes do cérebro estão subjacentes ao nosso sentido de “eu” – um componente chave da consciência.
Os VENs podem ser importantes para isto tudo, mas as evidências que os pesquisadores têm ainda são apenas circunstanciais, apesar de importantes. Avançar na compreensão dos VENs envolve encontrar estas células e medir a sua atividade em um cérebro vivo, o que ainda não foi possível.
VENs
No cérebro, maior geralmente significa mais rápido, e como estas células são grandes, existe a suspeita de que elas estejam envolvidas em algum tipo de circuito que envolva a transmissão rápida de sinais importantes. No caso, sinais que estão relacionados à nossa vida social.
As pistas do funcionamento dos VENs pode ser encontrada também nas patologias caracterizadas pela falta ou excesso destas células. De fato, há uma forma de demência que ataca as pessoas com cerca de trinta anos, caracterizada por uma apatia social, ou falta de empatia e autocontrole. Você pode mostrar para estas pessoas uma foto de um acidente horrível e elas nem mesmo piscam. O cérebro dessas pessoas praticamente não tem VENs.
Outro grupo que tem alteração nos VENs são os autistas, que se dividem em dois grupos: os que têm muito poucos VENs e os que têm demais. Esquizofrênicos que cometem suicídios tem também, em geral, muito mais VENs no seu ACC que os que morrem de outras causas.
Outra pista é o comportamento de animais que também têm VENs, como chipanzés e gorilas, elefantes e algumas baleias e golfinhos. Todos são animais que vivem em grandes grupos sociais e apresentam o mesmo tipo de comportamento avançado associado aos VENs nas pessoas. Elefantes mostram sinais que se parecem demais com empatia, pois trabalham juntos para ajudar membros feridos, perdidos ou aprisionados, por exemplo. Mostram até mesmo sinais de tristeza em “cemitérios” de elefantes. Além disso, estas espécies reconhecem a si mesmas no espelho, o que é tomado como um indício de consciência.
Mas os VENs também aparecem em espécies não especialmente sociais, como manatis e girafas. Também aparecem em saguis e outros macacos dos quais não temos certeza se se reconhecem no espelho, embora sejam animais sociais. Uma possibilidade é que a expressão dos VENs nestes animais seja mais primitiva que nos outros mamíferos. Estas diferenças também podem oferecer pistas sobre como estes neurônios evoluíram.
Além disso, os VENs parecem estar associados a julgamentos morais e ao paladar e olfato. Curiosamente, a reação que temos para algo moralmente condenável é muito parecido com a reação a algo que cheira mal, ou tem gosto ruim. Talvez não seja por acaso que dizemos que algo “não cheira bem” quando parece ser algo condenável.
A consciência, um acidente
Entretanto, somente em animais altamente sociais os VENs vivem exclusivamente nas regiões do olfato e paladar. Em girafas e hipopótamos, por exemplo, os VENs parecem estar espalhados por todo o cérebro. Uma compreensão genética da origem destas células pode explicar esta diferença.
Baseados nas evidências que têm, os cientistas acreditam que os VENs dos ancestrais estavam mais espalhados, como no cérebro do hipopótamo, e no curso da evolução eles migraram para o ACC e o FI em alguns animais, mas não em outros. A razão para esta migração é desconhecida; talvez a pressão seletiva que moldou o cérebro dos primatas tenha sido muito diferente da que afetou a evolução de baleias e golfinhos, por exemplo.
Um ponto interessante é que quanto maior o cérebro, mais energia ele consome, então é importante que ele funcione o mais eficientemente possível. Um sistema que monitore continuamente o ambiente e as pessoas ou animais nele teria uma vantagem, permitindo rápidas adaptações a uma situação para economizar o máximo de energia. E o fato que o cérebro está constantemente atualizando esta imagem de “como eu me sinto agora” talvez tenha um efeito colateral interessante: o conceito de que há um “eu” para sentir as sensações. Segundo os cientistas, “a evolução produziu um cálculo muito eficiente de momento a momento do uso de energia e este tem um epifenômeno, um subproduto que forneceu uma representação subjetiva dos sentimentos”.
Se eles estiverem corretos – e ainda há um longo caminho a percorrer antes de termos certeza -, há uma grande possibilidade de que, longe de ser o ápice da evolução do cérebro, a consciência talvez seja um grande acidente.[New Scientist]
Fonte: http://hypescience.com/o-maior-estudo-ja-feito-sobre-pacientes-ressuscitados-indica-consciencia-apos-morte/
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